É crescente o sentimento que as árvores da nossa cidade estão muito altas, que sujam as ruas com o cair da folha e promovem o levantamento dos passeios com as raízes. Este sentimento, de urbanidade omite um saber ancestral: as árvores sempre foram altas, sempre deixaram cair a folha cumprindo o ciclo de boas vindas ao outono e os passeios sendo infraestruturas necessitam de manutenção regular à semelhança das nossas casas; previamente devem as caldeiras ser estabelecidas nos passeios em dimensão suficiente que considere o crescimento anual das árvores até à idade adulta.
Uma Floresta Urbana devidamente desenhada e planeada pode ser usada como uma “biotecnologia” natural para reduzir alguns efeitos adversos no ambiente e saúde associados com a urbanização. Com a extensão da urbanização a expandir-se, há uma urgente necessidade de incorporar os efeitos da vegetação urbana na redução destes malefícios em planeamentos, políticas e regulamentos a longo prazo de forma a melhorar a qualidade ambiental, considerando a árvore como ser vivo e não como infraestrutura.
A qualidade e sustentabilidade das cidades depende do design, gestão e manutenção da Floresta Urbana, importantes para a dinâmica social, lúdica e embelezamento urbano. São conhecidos os benefícios da presença de árvores na cidade como produtoras de oxigénio e filtros de ar, no entanto, são recentes os estudos e a sistematização destes benefícios, incidindo sobre fatores como temperatura do ar, ensombramento, qualidade do ar, melhoria de hidrologia urbana, controle da erosão, aumento da biodiversidade, redução do ruído, economia de energia e, ainda, benefícios mais dificilmente mensuráveis como os estéticos, psicológicos e socioeconómicos. As árvores “apesar de invisíveis” até ao momento em que começam a causar desconforto ao ser humano, pela sua existência, são a base da vida na terra enquanto produtoras de oxigénio gratuitamente; afetam a temperatura do ar envolvente, a absorção da radiação e acumulação de calor, velocidade do vento, humidade relativa, turbulência, ajudam na remoção dos poluentes atmosféricos afetando positivamente a qualidade do ar. A arborização urbana contribui para a remoção de ozono, amónia e partículas e atua como reservatório de dióxido de carbono, com a capacidade de intercetar toneladas de poeiras servindo de barreiras acústicas em ruas com elevado tráfego rodoviário. As árvores têm também a capacidade de remover da atmosfera alguns compostos participantes em ciclos fotoquímicos e também metais pesados como o mercúrio (Hg) e chumbo (Pb).
Para monitorizar a qualidade do ar a ASPEA (Associação Portuguesa de Educação Ambiental) está a coordenar com a UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) o projeto MAPeAR que introduz metodologias de investigação-ação nas comunidades educativas, em temáticas ambientais menos desenvolvidas nas escolas, nomeadamente a qualidade do ar ambiente (partículas PM10 e PM2,5) e os seus efeitos na saúde humana e, deste modo, incentiva à participação ativa no quotidiano das comunidades e cidades em que as escolas se inserem – trata-se de enraizar a “aprendizagem fora de portas” através do recurso às novas tecnologias ao dispor da ciência cidadã.
Com o objetivo da promoção da literacia socioambiental, na comunidade escolar, sobre os impactos da poluição do ar nos metabolismos urbano e humano, cuja mitigação e eliminação estão diretamente associados aos ODS «3. Saúde de qualidade» e «11. Cidades e comunidades sustentáveis: https://aspea.org/index.php/pt/605-aspea-lanca-o-projeto-mapear-mapeamento-ambiental-colaborativo-da-qualidade-do-ar-e-ruido-de-ambito-nacional Neste tempo Covid-19 importa reforçar o papel da Educação Ambiental aliado à Floresta Urbana mitigadora de agentes nocivos à saúde, filtros naturais da atmosfera e dos recursos hídricos. Importa estabelecer novas dinâmicas de monitorização da qualidade de ar na cidade em parceria com a comunidade escolar reforçando os corredores ecológicos: nos passeios das cidades, nos bairros, em volta e no centro dos aglomerados urbanos.
Cláudia Guedes, Mestre em Engenharia Florestal